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"Um dia, Assis não se sabe como, o rapaz começou a bater pandeiro. Tanto que surrou, que sentiu sua alma vestida de malandro, com sua calça listrada, camisa de meia manga "palheta", e com muita vontade de brigar, tornou-se um dos nossos grandes compositores e sambistas daquela época ".
















sábado, 29 de maio de 2010

O livro Brasil Pandeiro

O livro "Brasil Pandeiro conta história do compositor baiano Assis Valente nasceu em 19 de março de 1911, em Santo Amaro, BA. Teve, desde criança, uma vida bastante conturbada. Até os 10 anos foi roubado dos pais, trabalhando em regime de semi-escravidão em casa de família e se tornado ajudante de farmácia. A família que o fez trabalhar também o fez estudar durante a noite - e Assis se tornou, aos dez anos, um discursista de primeira qualidade, além de declamador (adorava Guerra Junqueiro e Castro Alves).
Aos 10 anos foi trabalhar em um circo, como declamador e comediante - mas isso logo deixou Assis cansado. Foi para o Rio exercer a função de protético (suas dentadura ficaram famosas - Lamartine Babo costumava chamá-lo de "O Pivô do Samba"). Gozador, sua primeira música e sucesso é Tem Francesa no Morro, gravada por Araci Côrtes (Done muá si vu plé lonér de dancê aveque muá...).
Assis compunha sempre já pensando na pessoa que cantaria seu samba. Quando conheceu Carmem Miranda ficou boquiaberto com a cantora. Tentou se aproximar tendo aulas de violão com um homem que julgava ser o pai adotivo da cantora. Engano. Decidiu então compor um samba em exaltação à Bahia. Carmem gostou e gravou. Para o outro lado do disco, Assis compôs a famosa Good Bye, Boy.
O sucesso na voz de Carmem Miranda foi estrondoso, e Assis seguiu compondo para ela: Camisa Listada, Uva de Caminhão, Minha Embaixada Chegou, ...E o Mundo não se Acabou. Uma produção grande e impecável. Quando Carmem foi para os EUA, Assis se sentiu abandonado - mas já era bastante procurado por outros cantores, que adoravam suas músicas.
Quando soube que Carmem viria ao Brasil, Assis correu para compor duas músicas para ela: Recenseamento e Brasil Pandeiro. Carmem gravou a primeira e disse, sobre a segunda: "Assis, isso não presta. Você ficou borocoxô". Isso magoou profundamente o compositor, por saber que a música era de boa qualidade - e por ver o sucesso que fez posteriormente nas vozes dos Anjos do Inferno.
E foi a tristeza que fez com que ele tentasse o suicídio duas vezes, morrendo finalmente na terceira tentativa. Eram 6:00 da tarde de 6 de março de 1958.

Biografia atribulada

Era filho de José de Assis Valente e D. Maria Esteves Valente. Segundo relatava, tinha sido roubado aos pais, ainda pequeno, sendo depois entregue a uma família Santoamarense, que lhe deu educação, ao tempo em que o iniciou no trabalho, algo extenuante.
Já aos dez anos de idade revelava-se admirador de grandes poetas, como Castro Alves e Guerra Junqueiro, cujos versos declamava, encantando aos que ouviam. Por essa idade segue com um circo mambembe, até que finalmente radicou-se em Salvador, onde faz-se aluno do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, aprendendo também a confeccionar dentaduras.
Em 1927 muda para o Rio, onde se emprega como protético e consegue publicar alguns desenhos. Na década de 1930 compõe seus primeiros sambas, bastante incentivado por Heitor dos Prazeres.
Muitas de suas composições alcançam o sucesso, nas vozes de grandes intérpretes da época, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Altamiro Carrilho e muitos outros. Sua admiração por Carmem fê-lo até procurar aprender a tocar, pensando que o professor fosse pai adotivo da cantora - o que não procedia. A paixão não impediu que para ela compusesse várias canções, sempre presentes em seus discos.
Graças a uma dívida cobrada por Elvira Pagã, que lhe cantara alguns sucessos, junto com a irmã, tenta o suicídio pela primeira vez, cortando os pulsos.
Casou-se, em 23 de dezembro de 1939, com Nadyli da Silva Santos. Em 1941 (13 de maio) havia tentado o suicídio mais uma vez, saltando do Corcovado – tentativa frustrada por haver a queda sido amortecida pelas árvores.
Em 1942 nasce sua única filha, Nara Nadyli, e separa-se da esposa.

O suicídio

Desesperado com as dívidas, Assis Valente vai ao escritório de direitos autorais, na esperança de conseguir dinheiro. Ali só consegue um calmante. Telefona aos empregados, instruindo-os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando sua decisão.
Sentando-se num banco de rua, ingere formicida, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ary Barroso que lho pagasse dois alugueres em atraso. Morria às seis horas da tarde. No bilhete, o último "verso":
"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."

Composição e poética

Seu trabalho foi um dos mais profícuos da música, constando que chegava a compor quase uma canção por dia – muitas delas vendidas a baixos preços para outros, que então figuravam como autores.
Seu primeiro sucesso, ainda de 1932, foi "Tem Francesa no Morro", cantando por Aracy Cortes.
Foi autor, também, de peças para o Teatro de revista, como Rei Momo na Guerra, de 1943, em parceria com Freire Júnior.
Após sua morte, foi sendo esquecido, para ser finalmente redescoberto nos anos 1960, nas vozes de grandes intérpretes da MPB, como Chico Buarque, Maria Bethânia, Novos Baianos, Elis Regina, Adriana Calcanhoto, etc.

Excertos

Suas canções foram muitas vezes regravadas, mesmo depois de sua morte, atingindo sucessivas gerações, no Brasil. Suas composições trazem um conteúdo poético, que buscam emocionar, algumas com um teor mais reflexivo. Alguns exemplos:

"Já faz tempo que eu pedi

Mas o meu Papai Noel não vem

Com certeza já morreu

Ou então felicidade

É brinquedo que não tem"

(de: "Boas Festas")



"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor

Eu fui à Penha e pedi à padroeira para me ajudar

Salve o Morro do Vintém, pendura a saia que eu quero ver

Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar"

(de: "Brasil Pandeiro").

Musicografia

Sua farta produção foi capaz de popularizar expressões, que eram faladas no Brasil todo, como "Deixa estar, jacaré" – ou durante todos os anos voltar a ser tocadas, como "Cai, Cai, Balão". Seu principais sucessos:

Composição Parceria Ano Estilo Intérpretes

A Folia Chegou — 1938 marcha

A Infelicidade me Persegue — 1936 samba Sônia Carvalho; Dora Lopes

A Rosa e Vento — samba

A Saudade me Viu 1938 samba Bando da Lua

A Semana Findou 1950 samba

A Vida é Boa Herivelto Martins e Francisco Sena 1934 marcha

Abre a Boca e Fecha os Olhos 1933 samba Moreira da Silva

Acabei a Paciência 1933 samba Jaime Vogeler

Acorda, São João 1934 marcha Carmem Miranda, Moraes Moreira

Adivinhação — 1936 marcha Bando da Lua

Boas Festas música natalina

Boneca de pano — 1950 samba Carmen Costa

Brasil Pandeiro — 1940 samba

Cai, Cai, Balão — 1933 marcha

Camisa Listrada — 1937 choro Marlene

E o Mundo Não se Acabou — 1938 choro Marlene

Este Samba Foi Feito pra Você Humberto Porto 1935 samba

Fez Bobagem — 1942 samba

Good Bye, Boy — 1933 marcha

Tem Francesa no Morro — 1932 samba

Uva de Caminhão — 1939 samba Marlene

Discografia e homenagens

Quatro álbuns póstumos reúnem trabalhos do compositor:

Assis Valente (1970) - RCA/Abril Cultural 33/10 pol

Assis Valente (1977) - Abril Cultural 33/10 pol.

Assis Valente (1989) - FUNARTE LP

Assis Valente com Dendê - Sons da Bahia (Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia - Bahiatursa); Salvador, 1999.

De 1956 é o álbum "Marlene Apresenta Sucessos de Assis Valente", da cantora Marlene.

A Rede Globo, em 1977, dedica-lhe todo um programa da série "Brasil Especial".

A mesma emissora, na década de 1980, usa um título de uma composição sua para nominar um programa – "Brasil Pandeiro" – apresentado pela actriz Beth Faria.

"Brasil Pandeiro - Assis Valente", obra da Ed. Irmãos Vitale (Coleção "Canta um Conto", 2004, ISBN 8574071730) traz um pouco da obra do grande compositor.

Boneca de pano

Ligações externas

Dicionário Cravo Albin de MPB

Biografia (com música para download).

Sumário:

1 Biografia atribulada
1.1 O suicídio
2 Composição e poética
2.1 Excertos
2.2 Musicografia
3 Discografia e homenagens
4 Ver também
5 Ligações externas

A música, com sua riqueza e encatamento, está presente em todo o mundo, como uma grande parceira da história e da cultura de um povo. A coleção Canto um Conto propõe-se a apresentar e a resgatar a memória da Música Popular Brasileira, destacando alguns compositores que marcaram época, tendo como pressuposto alguns movimentos musicais do século XX. A coleção integra variadas linguagens: a estética, a poesia, a música, (partitura) e a informação (histórico da época da época e biografia do autor), que fazem com que o leitor tenha uma visão ampliada da produção artística musical da época.

Editora: Irmãos Vitale

Autor: ASSIS VALENTE

ISBN: 8574071730

Origem: Nacional

Ano: 1960/ 2004

Edição: 1

Número de páginas: 12

Acabamento: Brochura

Formato: Médio

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