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"Um dia, Assis não se sabe como, o rapaz começou a bater pandeiro. Tanto que surrou, que sentiu sua alma vestida de malandro, com sua calça listrada, camisa de meia manga "palheta", e com muita vontade de brigar, tornou-se um dos nossos grandes compositores e sambistas daquela época ".
















segunda-feira, 31 de maio de 2010

Assis Valente compunha a música "Boas Festas" em 1932, e no ano seguinte era gravada pot Calos Galhardo acompanhao dos Diabos do Céu, orquestrao por Pixinguinha e surgia um grande compositor Custódio Mesquita

Em 1932, Assis Valente compunha a letra da música "Boas Festas", e gravada no ano seguinte por Carlos Galhardo e acompanhamento dos Diabos do Céu, com orquestração e regência de Pixinguinha. Atualmente essa canção é considerada uma das mais belas melodias da MPB e revela um Assis Valente preocupado com a causa da criança pobre e infeliz, provavelmente devido à sua própria infância.
Transformou- se no "hino" nacional do Natal brasileiro. A partir daí, surgia dois compositores que estreava com sucesso nesta época: Custódio Mesquita e José de Assis Valente. Assis Valente, gravara sete melodias neste período. E no ano seguinte, não fez por menos, gravou 23 músicas entre os meses de janeiro e dezembro.

Assis Valente, Carmen Miranda, Carlos Galhardo e Almirante participam do concurso "Utisal" de músicascarnavalescas. Mas quem ganha o concurso é a "Pequena Notável"

Neste mesmo ano, eram tão grandes a popularidade e o sentido promocional de Assis Valente, que quando o jornal a "Nação" lançou o concurso do "Untisal". Um produto farmacêutico, que iria definir um "Embaixador da Música Brasileira" pra visitar e se apresentar em Buenos Aires, na Argentina. Assis Valente que não cantava e nem tocava nada, apareceu entre os mais votados da promoção. Quem ganhou? Foi a cantora Carmen Miranda, a "Pequena Notável". Assis competiu e ao término estava na frente dos cantores Carlos Galhardo, de Almirante e 1932.

A cantora Araci Cortes grava a primeira obra do compositor baiano Assis Valente, a música "Tem Francesa no Morro"

Mas foi neste período que a estrela de Assis Valente brilhou, cintilou intensamente, o compositor, foi colocado nos auge da preferência popular brasileira. Inspirado pelo modismo de falar francês e principalmente inglês. Assis, compôs a sua primeira obra de sucesso, o samba, "Tem Francesa No Morro", que tornou- se sucesso imediato na voz da cantora Araci Cortes. Foi através da cantora, que Assis, ficou conhecido no meio musical. Deslumbrado, foi deixando de lado o seu trabalho como protético. Seu sócio, inutilmente tentava trazê- lo de volta ao trabalho, incentivando- o a largar de vez música, mas este sumia novamente e ficava durante meses sem aparecer. Quando voltava, envergonhado, jurava que ia assumir seu cargo no laboratório. Assis falava que ia deixar: "essa coisa de sambista de lado", era só o tempo de concluir umas gravações, aproveitava para pedir um dinheiro emprestado ao sócio e... sumia de novo, mais uma vez.

A tercera música de Assis Valente "Good, bye, boy" era interpretada por Carmen Miranda

A terceira música de Assis Valente, gravada, foi "Good Bye Boy", interpretada pela cantora Carmen Miranda. Assis conta que se "inspirou, encontrado num único motivo, quando foi à uma festa em Vila Isabel, onde as expressões em inglês eram usadas sem o menor senso do ridículo pelas pessoas que circulavam pelo local. Assis, dizia que:- "Eles trocavam muitos bye- byes, achando aquilo tudo muito engraçado e sentia pena. Na volta pra casa já tinha a marchinha pronta e esboçada".          

Nos anos que seguiram Assis Valentegravou as músicas "Minha Embaixaa Chegou", Mangueira", "Uva de Caminhão", "Recenseamento" e "Alegria"

Nos anos que se seguiram, os fatos se repetiram, Assis tornou- se um dos mais requisitados compositores e não conseguia dedicar- se com afinco nem para a música, nem para o laboratório. Assis, gravou as músicas "Minha Embaixada Chegou", "Mangueira", "Uva de Caminhão", "Recenseamento", "Alegria" etc. Além de outras canções compostas pelo compositor Assis Valente logo caíram no gosto popular carioca daquela época. 

Assis Valente fazia sucesso em 1939 e era muito invejado por todos por aonde ele passava

O seu sucesso estendeu- se, até o ano de 1939, o compositor Assis Valente era muito  requisitado nesta época por cantores. O compositor era admirado pelo povo, olhado com respeito e cercado de invejosos que circulavam no meio artístico. Considerado pelas gravadoras e as editoras, o mais popular compositor e cantor da música brasileira.

Assis Valente era o assunto principal nas Manchetes dos principais jornais

Assis Valente era o assunto principal da música popular brasileira entre várias reportagens que trazia a foto do moço bonito, de sorriso cativante, carismático,  bem- vestido e comunicativo. O compositor era assunto fácil de várias  matérias repetidas e repercutidas na imprensa carioca.  Assis, foi um gênio, um ciclone devastador, um cometa meteórico, arrastando milhares de pessoas por onde passava. Tudo isso é pouco para calcular a euforia, o alvoroço que Assis Valente causava entre as pessoas, durante estes sete anos que seguiram ao longo de sua trajetória como compositor e cantor da nossa música popular brasileira.       

Assis Valente compôs a música "ETC" (Bahia, terra do meu samba) para a cantora Carmen Miranda

Anos mais tarde, Assis Valente conheceu Carmen Miranda, sua paixão por ela foi fulminante, logo transformada numa grande amizade. E então passou a compor músicas escritas especialmente para ela como a canção  "ETC" (Bahia, terra do meu samba). A cantora Carmen Miranda, foi a maior intérprete e divulgadora dos sambas do compositor baiano, Assis Valente. Ela interpretou várias outras músicas escritas por Assis Valente, canções que foram eternizadas na voz da "Pequena Notável".

Assis Valente compunha em 1934 a música o "Muro" e mostrava toda a sua musicalidade

No dia 18 de outubro de 1934, o compositor Assis Valente, gravava a marchinha, o "Muro", a música foi composta para defender a sua imagem pessoal contra todas as pessoas que tentavam prejudicar e se intrometer na sua vida intima. Colocado em verso e prosa, a canção traduzia todo o sentimento do compositor como angústia e amargura. Neste mesmo período, o compositor compunha a canção "Gosto mais do outro lado", mostrava e dividia ao mesmo tempo os dois lados de sua vida como sendo um claro e um outro escuro, um lado bom e um outro mal vivenciadas por Assis Valente  em toda a sua

O Bando da Lua, a cantora Maria Alcina e o 4 Ases e 1 Coringa gravam a música "Maria Boa" do compositor baiano Assis Valente entre os anos de 1935 e 1941

O primeiro registro da música "Maria Boa", executada pelo Bando da Lua, foi concretizada em 1935, na gravadora "RCA Vitor" da Argentina e lançada ao mesmo tempo neste país e no Brasil. A popularidade desse samba chegou aos Estados Unidos em 1941, onde o Bando da Lua fez um novo registro. Anos depois, a carismática versão da cantora Maria Alcina revive o sucesso de "Maria Boa". Outros grupos vocais também popularizaram sambas do compositor, como o Bando da Lua, que gravou também esta canção ou o Quatro Ases e Um Coringa". A partir daí, surgia um grande compositor para as nossas escolas de samba. Assis Valente, era considerado e festejado pelo povo brasileiro como sendo um dos nossos grandes compositores das músicas vitoriosas carnavalescas.

Nara Leão, Chico Buarque e Maria Bethânia cantavam a música "Minha Embaixada Chegou", no filme Quando o carnaval chegaro do compositor baiano Assis Valente em 1972

Neste mesmo ano, Assis Valente gravava a música "Minha Embaixada Chegou", que fez um grande sucesso no carnaval neste período, interpretado pela cantora Carmen Miranda. Este samba foi quase esquecido durante várias décadas, sendo redescoberto nas vozes de duas jovens talentosas cantoras, Nara Leão e Maria Bethânia, para o filme "Quando o carnaval chegar", de Carlos Diegues em agosto de 1972, orquestrado e regido por Roberto Menescal. Há de citar e lembrar também o brilhante trabalho da jovem cantora Mariana Baltar como sendo mais uma interprete e fã do compositor Assis Valente.       

As cantoras Carmen Miranda gravvam entre os anos de 1937 e 1963 a música "Camisa Listrada" do compositor baiano Assis Valente

Neste mesmo período, num pleno domingo, era realizado o concurso oficial de "Músicas Carnavalescas da Prefeitura", no Theatro "João Caetano", no Centro da cidade do Rio de Janeiro, dirigidos pelos compositores Ari Barroso e Nonô. Entre outros compositores classificados estavam o compositor Assis Valente com o samba- choro, "Camisa Listrada". Assis Valente como sarcástico nesta música debochava dos homens da alta sociedade que se fantasiavam de malandro no carnaval para escapar das dívidas feitas por eles. Embora o primeiro registro da música "Camisa Listrada", foi efetuada em abril de 1937, sendo assim creditada as irmãs Pagãs, esse LP não chegou a ser gravado. Em outubro do mesmo ano, surgia a versão da música na voz da "Pequena Notável" numa gravação inédita.  Em 1969 a cantora Maria Bethânia gravou a música "Camisa Listrada" novamente do compositor baiano, Assis Valente, e cantava na Boite "Barroco", na cidade do Rio de Janeiro.    
 

Assis Valente componhe os sambas "Cansado de sambar" e "Que é que Maria tem no samba". de 1937

Em 1937, o compositor lançava mais dois novos sambas como "Cansado de sambar" e "Que é que Maria tem no samba". No ano seguinte, empolgado com o sucesso do samba "Camisa Listrada", criou o grupo carnavalesco "Camisas Listradas", com o qual passou a desfilar pela cidade do Rio de Janeiro. No seu consultório dentário e do sócio, era um entra- e- saí de vários cantores. Aguiar Dantas, irritado chegou a oferecer ao (ainda) sócio que fosse aos Estados Unidos, fazer um curso de prótese, mais diante da recusa, Aguiar renunciou à sociedade. Ofendido, Assis procurou uma sala no mesmo prédio em que trabalhava e continuou esporadicamente exercendo a sua  função como protético.          

Assis Valente compra o seu primeiro apartarmento no Centro da cidade do Rio de Janeiro

Assis Valente, depois de tanto sucesso, as suas músicas eram tocadas disparadamente nas rádios de todo o Brasil. O rapaz, comprava o seu primeiro apartamento bonito e confortável, aqui na Rua Senador Dantas, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, onde havia uma sala grande que parecia um escritório de advogado, uma sala de música, um atelier, um rádio, uma estante com livros, uma vitrola, um cavalete de desenho e uma secretária moderna.

Assis Valente em parceria com o compositor Durval Maia regravam a música "Alegria", de Orlando Silva antes conhecida como "Vivo triste"

Nesta época também, Assis Valente compunha em parceria com o compositor Durval Maia música "Alegria". Curiosamente esta canção se chamava "Vivo Triste", gravada originalmente pelo cantor Orlando Silva com o acompanhamento do grupo Diabos do Céu, sob arranjos e regência de nada mais, nada menos do que Pixinguinha. Atualmente a cantora Vanessa da Mata regravou a canção "Alegria", mostrando toda a sua graciosidade. Comprovando mais uma vez, que as músicas do compositor Assis Valente não caíram no esquecimento do povo brasileiro.      

Carmen Miranda grava a música "Uva de Caminhão" do compositor baiano Assis Valente em 1939

Em abril de 1939, Assis Valente, compunha a música "Uva de Caminhão", uma canção  desconcertada, sem sentido. A cantora Carmen Miranda, acompanhada do conjunto Odeon, com seus trejeitos e graciosidade dava o tom a música.    

O casamentodo compositor baiano Assis Valente com a datilográfa Nadyle da Silva Santos

Com a ida da sua cantora favorita, Carmen Miranda,para os Estados Unidos em 1939, a carreira de Assis, começava a declinar. Em 23 de dezembro deste mesmo ano, José de Assis Valente, estimado, conhecido como poeta e respeitado pelo povo brasileiro como grande compositor da nossa música popular brasileira, casava- se com a datilógrafa carioca, à Srta. Nadyle da Silva Santos, filha do Sr. Alcebíades da Silva Santos e da Sra. Maria Augusta dos Santos, distinto casal da alta sociedade carioca. A jovem Nadyle era quinze anos mais nova do que Assis Valente. O casamento religioso, foi realizado aqui na Igreja da Matriz de "São Francisco Xavier", na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, às 17:00 horas da tarde e o ato civil, foi realizado na residência do casal, na Rua Amaro Cavalcanti, no Méier. Assis era uma pessoa muito reservada e discreta, que não revelou o seu casamento a ninguém, nem a mídia e nem mesmo aos seus amigos mais íntimos. A partir daí, Assis só pensava na sua carreira como compositor e cantor.  

Assis Valente em parceria com o Bando Carioca lança a marcha "Cacique do Ar"

Neste mesmo período, Assis Valente em parceria com o Bando Carioca, lançava mas uma música, a marcha "Cacique do Ar" e dedicava exclusivamente ao jornal "Diário dos Associados".

As cantoras Carmen acompanhada do conjunto Odeon e Marlene gravam a música "Recenseamento" do compositor baiano Assis Valente em 1940

Em 27 de setembro de 1940, foi gravado por Carmen Miranda com acompanhamento do conjunto Odeon, a música "Recenseamento". A canção foi inspirada ao povo sofrido que vivia nos becos e favelas do morro da cidade do Rio de Janeiro. Foi um tiro certeiro para as classes sociais menos favorecidas que viviam em condições precárias. A música fez parte do repertório da "Rainha do Rádio", a cantora Marlene, que fez um grande sucesso na época, gravando assim todas as músicas do compositor Assis Valente.

Assis Valente compunha a letra da música "Brasil Pandeiro" em homenagem ao nascimento de sua filha, Nara Nadyle Valente

E em 31 de janeiro de 1941, nascia a primeira e única filha do sambista, Nara Nadyle dos Santos Valente. Mas como em todos os momentos de sua trajetória, as alegrias vividas ao longo de sua existência, não durariam muito: "alguns meses depois, o casamento do compositor acabava".
Mas uma tristeza e amargura para Assis Valente, que passaria a carregar também a saudade da filha, que quase não veria mais. A música mas famosa do compositor, "Brasil Pandeiro", foi composta por Assis, e dedicada a sua filha Nara Nadyle, que tinha acabado de nascer. Dada de presente para  a cantora Carmen Miranda, que rejeitada por ela, acabou sendo gravada anos mais tarde neste mesmo período pela Banda "Anjos do Inferno", com tamanho sucesso, a canção fez parte da trilha sonora do filme brasileiro "Céu Azul" da Sonofilmes. E também regravada pelo grupo os "Novos Baianos" mais de 30 anos depois, de novo com grande êxito. Em 1994, a música "Brasil Pandeiro" voltava a ser reeditada e extremamente popular na boca do povo, graças a uma campanha publicitária relacionada a "Copa do Mundo".

A primeira tentativa de suicídio do compositor baiano Assis Valente, do Alto do Corcovado

A vida de Assis Valente, foi muito tumultuada. Em 13 de maio de 1941, tentou o suicídio pela primeira vez, atirando- se do alto do Corcovado. Acabou sendo resgatado pelos os bombeiros, e completamente transtornado, declarou apenas: "Tenho uma mulher e uma filha que não me têm" Os jornais do dia seguinte, traziam como destaque a tentativa do primeiro suicídio do compositor Assis Valente.  
O compositor depois de recuperado totalmente, compôs a música "Fez Bobagem", uma canção que marcou a sua carreira definitivamente. O samba "Fez Bobagem" enfrentou muitas dificuldades naquela época. Os anos conturbados de 1939 à 1945 tornaram mais difíceis as gravações, devido aos conflitos políticos e ideológicos que o Brasil enfrentava neste período. A Pequena Notável para quem Assis havia feito a música, foi viver nos Estados Unidos. Mesmo assim em janeiro do ano seguinte, a música "Fez Bobagem" foi relançada novamente com grande sucesso, interpretado pela cantora Aracy de Almeida. A música referia- se ao moreno que maltratava o coração de sua mulher, traindo- a com outra. Outros grandes cantores consagrados regravaram as músicas do compositor Assis Valente, como os artistas Nara Leão, Chico Buarque e Adriana Calcanhotto.

A segunda tentativa de suicídio do compositor baiano Assis Valente

Mas a carreira bem sucedida de Assis Valente como compositor não foi suficiente para mantê- lo vivo, e anos depois de cometer a primeira tentativa de suicídio, na seqüência de uma cobrança escandalosa da cantora Elvira Pagã, para quem devia dinheiro há algum tempo. Assis, cortava os pulsos pela segunda vez, mais eranovamente salvo. Mas mesmo assim, o compositor nunca mais seria o mesmo.
Cada vez mas afastado de todas as pessoas do seu convívio, não deixava que ninguém soubesse dos seus problemas íntimos e reais. O desalento e o abandono em seu peito só faziam aumentar  a tristeza cada vez mais. O compositor Russo do Pandeiro, chegou a declarar:- "Eu diria que conheci três Assis Valentes": Entre 1933 e 1939, Assis, era com Carmen Miranda, um homem presente, um compositor alegre- intenso, de 1940 a 1951, alegre- moderado, e de 1951 até o fim da vida alegre- tristíssimo".

Assis Valente compunha a música "Boneca de Pano" em homenagem a amiga Carmen Miranda, por quem tinha um grande apreço inestimável


O compositor compunha em 10 de julho de 1950, o samba "Boneca de Pano". A música relembra um pouco a nossa Pequena Notável com seu semblante de bonequinha de louça, nesse caso de pano. Com sua pele alva e clara, e a sua boca vermelha traduziam perfeitamente a letra da melodia.   

O adeus a Carmen Miranda, a "Pequena Notável" para os brasileiros e a "Brazilian Bombshell" para os americanos como era chamada

Mas no dia 5 de agosto de 1955, vinha a notícia dos rádios, que comunicavam o falecimento da cantora Carmen Miranda, a "Pequena Notável". Depois de passar mal um pouco antes em um programa de televisão ao vivo. A Pequena Notável, teve um colapso cardíaco, um enfarte fulminante, na sua casa em Beverly Hills, Estados Unidos. Seu corpo, foi embalsamado e veio de avião direto para o Brasil, onde uma multidão de um milhão de pessoas a esperavam no aeroporto do "Galeão", atual "Tom Jobim', seguindo o cortejo de seu enterro, cantando emocionado a música "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim", sua primeira canção de grande sucesso, composta por Joubert de Carvalho. A cantora Carmen Miranda, até hoje continua sendo sempre lembrada pelo povo e pelos seus fãs, através de shows e discos em sua homenagem como nos filmes, documentários sobre a sua vida (como o premiado "Banana Is My Bussines"), aonde era conhecida pelos americanos como "Brazilian Bombshell".     

O corpo de Carmen Miranda chegou ao Rio no dia 12 de agosto de 1955. Ao microfone da Radio Mayrink Veiga, a sua estação aqui no Brasil, César Ladeira, naquele dia, fez uma saudação de despedida à Carmen. Apesar da qualidade da gravação não ser boa, vale a pena ouví-la:

Carlos Henrique (locutor): Vai falar, César Ladeira.

César Ladeira: Carmen, minha boa amiga, quiseram seus antigos companheiros da Mayrink Veiga que fosse eu o intérprete de sua tristeza nesse nosso último adeus. Eu, que tantas e tantas vezes apresentei você ao microfone da sua estação, com sua voz que fazia vibrar o espaço de alegria e de ritmo, eu sou agora o escolhido para a despedida extrema. Por este mesmo microfone, quando seu silêncio definitivo enche nossos corações de mágoa e tristeza. Esta mesma rua, que hoje se encontra repleta de gente amiga, deplorando seu desaparecimento, esta mesma rua foi testemunha de seus sucessos mundiais lá por volta de 1934. Você, no marasmo artístico daquela época, era um acontecimento nacional. Seu nome projetava-se para o alto, num destino vaidoso de rojão, sempre subindo, subindo. Duas vezes por semana, na obrigação pontual de suas audições, essa gente se acotovelava numa pequena sala apelidada de auditório, acompanhando feliz pelo vidro do estúdio os números musicais que você enviava a todo o Brasil, criando sempre um sucesso atrás do outro. "Camisa Listrada", "Uva de Caminhão", "Adeus Batucada", "No Tabuleiro da Baiana". Essa mesma gente ficou feliz quando soube em 1939 que outros olhos iriam apreciar sua arte para sempre, lá fora, lá longe. Sempre feliz, minha amiga, essa mesma gente que a levou até o navio para um bota-fora consagrador, essa mesma gente foi buscá-la no ano seguinte após a confirmação de seu êxito internacional. No âmbito da Rua Mayrink Veiga, que aqui andou e que a seguiu pela Avenida Rio Branco super lotada. Os alto-falantes berrando e você, a Pequena Notável, foi saudada como uma legítima jóia verde-amarela. A nossa cantora doméstica ia além fronteiras que ampliavam seu cartaz. O cinema levara nossa Carmen Miranda à todas as partes do mundo. E em todo coração havia um lugarzinho reservado para a gente gostar de você. E você, Carmen, você acabou voltando para longe e lá ficou catorze ou quinze anos. Seu pensamento constante era, no entanto, a sua terra. Neste Brasil onde você não nasceu, mas que poderia ter nascido pelo que por ele fez na divulgação de sua música. Um milagre, apesar do distante, sua estrela ainda brilhava com intensidade. Seu nome continuou sendo uma claridade. Mas enquanto seus antigos companheiros da Mayrink Veiga, essa mesma gente que sempre acompanhou seus passos com interesse, enquanto nós gozávamos com seu sucesso permanente, esse mesmo sucesso vinha matando você, Carmen. A glória vinha pouco a pouco assassinando, desgastando suas energias, num vai-e-vem obrigatório de contratos a cumprir, na exigência fria e calculista dos números, em quinze anos passados tivemos a prova do preço de sua popularidade, Carmen. A Pequena Notável, aqui chegava quinze anos depois, curvalida, cansada, com os nervos em pedaços. Espalhou-se por aí uma onda de boatos imaginando doenças demais. Apenas uma era a causa: descontrole imenso de nervos, cansaço, excesso de trabalho. Mas então o que valera tudo aquilo? Toda aquela brilhante carreira, toda aquela trajetória maravilhosa? Afinal, este sacrifício valeu a pena? Valeu, e não valeu. Valeu pela repercussão internacional das melodias do Brasil, das coisas do Brasil. Do Brasil ele mesmo, da embaixada risonha, cujo côro musical presidido pela Pequena Notável, conseguiu divulgar no exterior. Valeu a pena sim, para nós. Mas não valeu a pena para você, Carmen, que pagou tão alto salário pelo custo de sua fama. Ao mesmo tempo, dançava e "iaiava". Divertia populações e enriquecia. Mas de que valeu tanto sacrifício, que comprou a glória a tão elevado preço - a própria vida? Carmen, nós, seus antigos companheiros, dessa rádio de tão brilhantes dias, nós, que desta Rua Mayrink Veiga, nós, o Brasil, que a acompanhávamos sempre radiantes por suas glórias, também lhe devemos alguma coisa. E essa dívida nós saldaremos no culto perene da sua saudade. Nós lhe devemos todo esse sacrifício feito por nós. E porque nós sabemos que foi para nós, com pensamento no Brasil, que você embarcou uma noite, em 1939, para Nova York, para elevar o nome musical do Brasil. Tão alto, tão alto que numa certa madrugada de agosto de 1955, você percebeu que estava cantando para alguns amigos que você nunca esqueceu: Custódio Mesquita, João de Barro, Francisco Alves, Noel Rosa, César Silva, Luiz Barbosa. Carmen, você que sempre me agradecia o apelido com que num dia feliz eu a chamei, a Pequena Notável, desculpe-me hoje a falta de brilho destas palavras pequenas, mas eu desejei ser apenas sincero. Seu amigo de sempre, seu velho companheiro de luta, o representante de todos que aqui trabalharam e trabalham agora. E é sinceramente que eu lhe trago nosso muito obrigado por tudo que você fez. E é sinceramente que eu lhe digo que seu sacrifício será para sempre louvado em nossa terra. E é sinceramente, Carmen amiga, que lhe desejamos que você repouse em paz. Nessa paz que você nunca teve em sua atribulada carreira. Adeus, Carmen. Adeus. Repouse em paz.

Declaração de Assis Valente para Carmen Miranda em sua morte

Assis Valente, declarou:- "Eu e Carmen fomos em certa época um só. Depois ela foi para os Estados Unidos, eu deixei de ser compositor e passei a levar esta vida que não é vida". 

O primeiro encontro de Carmen Miranda e o compositor baiano Assis Valente no Teatro "João Caetano"


Assis Valente foi dos que, de início, perceberam que Carmen Miranda tinha um potencial, era um gênio musical. Conheceu- a, de vista, no Theatro "João Caetano". Tentou, por diversas vezes aproximar- se dela. Impossível, porque um homem magro, carregava sempre um violão, boêmio mas com expressão severa, não permitia. que Assis Valente não chegasse perto da Pequena Notável. Mas o compositor persistente, nunca desistiu de um dia chegar perto de sua adorável e admirável Carmen Miranda. Carmen Miranda tornou- se- lhe, para o compositor, então uma fundo "E bateu- se a chapa", interpretado na voz da cantora Carmen Miranda.   Então, por acaso, (o acaso amigo de todos os artistas) fez com que o violonista Josué de Barros, que era o tal homem magro, de violão em punho, que sempre acompanhava Carmen, tocasse distraído, a introdução da música de Assis. Foi um grande sucesso. A música comovia, e fazia chorar. Assis valente relembra o tal fato a Ari Vasconcelos: Assis Valente, chegou a declarar, dizendo:- "Foi um sucesso tão grande que me arrancou lágrimas dos olhos. Ela me viu e gritou para o povo: "Vou apresentar, agora a vocês o dono da música". Houve um bis, todos cantaram em coro. Senti que tinha surgido. Sinto que hoje com a morte da nossa Carmen Miranda muita gente vai querer aparecer. "Eu preferi continuar a sombra da nossa grande amizade".     

Os três baianos da vida de Carmen Miranda: Josué de Barros, Dorival Caymmi e Assis Valente.

Carmen Miranda deve a sua carreira promissora de cantora popular brasileira, a três baianos. Esses três baianos, filhos da Bahia, que a "Pequena Notável" tanto exaltou, cantando sambas, abriram caminhos para a sua fama, ao seu sucesso. Em três momentos da vida da estrela luso- brasileira, eles foram fatores decisivos para sua carreira como cantora. A cantora Carmen Miranda, chegou a declarar:- "Assis Valente é um desses compositores baianos junto com Josué de Barros e Dorival Caymmi". Assis Valente fez um sucesso fenomenal em 1933 com a composição "Good bye, boy". O segundo baiano na vida de Carmen foi o compositor Assis Valente que veio para o Rio em 1927 com diploma de protético e estudante de odontologia, dividia seu tempo entre o consultório bem montado e a roda do samba, reinando com cetro e coroa em pouco tempo, e durante dez anos seguidos, porque Carmen Miranda gravou os discos de Assis Valente com exclusividade, e o fez absoluto, eterno.
Foi o violonista Josué de Barros quem aproximou Assis de Carmen Miranda numa festa no antigo cinema "Broadway", hoje Cine Odeon, na Cinelândia, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Para a cantora e o compositor Assis valente, começou então a "Era de Ouro" de suas vidas. Entre outras
coisas, Assis Valente compôs especialmente para a Pequena Notável canções como "Good bye, boy", "Camisa Listrada", "Papai Noel", "Anoiteceu", "Uva de Caminhão", "Disseram que voltei americanizada", "E o mundo não se acabou", "Minha embaixada chegou", enfim muitas outras músicas que foram sucesso e consagradas nos grandes carnavais passados. A grande maioria dos discos de Carmen Miranda é de autoria do compositor Assis Valente, o segundo baiano que levou- a à fama.
Essa coleção vale ouro hoje muito para os colecionadores que são apaixonados por esse estilo musical.              

Os grandes artitas da Cultura Popular Brasileira que partiram cedo e deixaram saudade

As músicas que Carmen Miranda cantava de Assis Valente, Ari Barroso, Dorival Caymmi e de outros grandes artistas que atualmente fazem parte do acervo e do patrimônio da nossa cultura popular brasileira. A nossa música nos faz lembrar dos tempos antigos, dos grandes nomes de e compositores e cantores que partiram muito cedo.     

Os últimos momentos do compositor baiano Assis Valente

Nos últimos tempos, Assis Valente andava triste. Mal conversava com os companheiros que encontrava na rua, tampouco sorria. No entanto, num dos primeiro dias de março de 1958, Assis estava novamente animado. Comunicativo parecia até mesmo feliz. Passou em um bar, onde encontrou o  jornalista e também amigo, Aor Ribeiro, contou- lhe a notícia num raro momento de alegria verdadeira: Assis Valente, disse:- "Pixinguinha vai gravar dois discos meus, Aor". O jornalista não podia saber, mais presenciava ali o último momento, delírio do compositor, a derradeira fantasia de uma vida, na qual a imaginação sempre escondeu a mágoa.

O desespro, a morte premeditada

No dia 11 de março deste mesmo ano, com sua criatividade e alegria oculta, como se tivesse esperando um pouco mais da vida, talvez estivesse sendo lembrado somente por sua poesia e contribuição a nossa música popular brasileira. Desesperado com as dívidas, Assis Valente vai ao escritório de direitos Autorais. Ali só consegue um calmante. Telefona aos seus empregados, instruindo- os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando a sua decisão. Sentando- se num banco de uma praça, ingere guaraná com formicida, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ari Barroso, que lhe pagasse dois alugueis atrasados. Morria numa quinta- feira, precisamente, às 18:00 horas da tarde, o compositor Assis Valente.