Funarte vai à luta e lembra Assis Valente
Para não ser acusada de imobilismo - num momento grave no qual está sem recursos e com riscos de ter mais de 60% de seu pessoal demitido - a Fundação Nacional de Arte não ficou apenas nos protestos contra a ameaça das demissões - aliás, a exemplo do que aconteceu em vários outros setores do Ministério da Cultura após 15 de janeiro.
Para não ser acusada de imobilismo - num momento grave no qual está sem recursos e com riscos de ter mais de 60% de seu pessoal demitido - a Fundação Nacional de Arte não ficou apenas nos protestos contra a ameaça das demissões - aliás, a exemplo do que aconteceu em vários outros setores do Ministério da Cultura após 15 de janeiro.
Ao contrário, a Funarte, completando 13 anos no último dia 15 de março (foi implantada quando Ney Braga ocupava o Ministério da Educação e Cultura) decidiu promover, através de seus cinco institutos (Artes Plásticas, Música, Folclore, Fotografia e Artes Gráficas) uma programação intensiva durante este mês, com o nome de "Funarte em Movimento".
Produzida a custos mínimos, a programação está envolvendo há duas semanas dezenas de artistas e instituições "que se dispuseram a participar desse mutirão cultural para marcar o início das atividades em 1989 e a reafirmar sua disposição de continuar o seu trabalho de apoio às atividades artísticas de todo o país" - como diz Hermínio Bello de Carvalho, diretor da divisão de música popular, a grande cabeça que há 14 anos impulsiona a Funarte.
Por uma questão operacional - e de custos - a maioria das atividades realiza-se no Rio de Janeiro, como a apresentação do conjunto Os Flautistas, na sala Sidney Miller. Outros eventos incluem uma exposição de luteria, encontro e artesãos e técnicos em instrumentos musicais, um recital do pianista Luizinho Eça, oficina de criação musical e seminário sobre a criação musical brasileira contemporânea; seminário sobre Direito Autoral, outro sobre Arte-Educação, um encontro de corais no Rio e até um novo encontro de pesquisadores musicais.
O Instituto Nacional de Música iniciou também um programa de Pesquisa Musicológica e Organização de Acervos Musicais, dando prosseguimento - e caráter de permanência e continuidade - a ações até agora esporádicas nessa área, como a recuperação do Acervo Curt Lange (em colaboração com o Museu da Inconfidência de Ouro Preto, e o levantamento de partituras do Acervo Padre João Mohana de São Luiz, o projeto de organização do Acervo da Sociedade Filarmônica Neotrentina de Nova Trento, SC (eis uma notícia que vai entusiasmar o mais famoso dos intelectuais daquela cidade, o chargista Dante, editor do Almanaque). Nessa linha de trabalho incluem-se também as coleções editoriais "Música Sacra Mineira", "Padre José Maurício" e "Acervo Curt Lange".
O primeiro passo para o programa de Pesquisas Musicológicas e Organização de Acervos é o mapeamento de todos os acervos existentes no país. Espera-se que a Secretaria da Cultura não durma e colabore no que diz respeito ao acervo do compositor e maestro Bento Mossurunga (1879-1970). A propósito, a situação da Sala de Música Popular Janguito do Rosário - criada para apoiar a área de MPP (Música Popular Paranaense) ainda está a espera de uma definição maior.
Enquanto já se tomam as primeiras providências para a VIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea (Rio, 22 a 29 de novembro/89), a divisão de Música Popular, mesmo com suas limitações orçamentárias, continua a enriquecer a bibliografia/discografia, lançando o livro "A Jovialidade Trágica de Assis Valente" de Francisco Duarte Silva e Dulcinéia Nunes Gomes e o disco, 19ª produção do Projeto Almirante que há 7 anos vem trabalhando numa série de ações com os objetivos de apoiar a divulgar as manifestações culturais no campo da MPB. Para quem não poderá assistir ao show "As Cantoras de Rádio Cantam Assis Valente" (Teatro João Caetano, até o dia 28, 18h30), com Zezé Gonzaga, Nora Nei, Rostia Gonzales, Violeta Cavalcante, Carmélia Alves e Ellen de Lima, direção de Tulio Feliciano, uma compensação: o elepê "Assis Valente'7" com Leci Brandão, João Nogueira, o Grupo Coro Come, Clara Sandroni, Dida Forasteiro, Célia e Paulo Moura (que nos dias 21 a 23, faz temporada no Paiol, com a pianista Clara Sverner).
O livro e o elepê com músicas de Assis Valente já podem ser encontrados na loja da Funarte (Rua Cruz Machado) mostrando um pouco da obra deste excelente compositor, que fez mais de 150 músicas, "muitas obras-primas que resistiram às transformações e modismos por que vem passando nossa música", como diz Hermínio.
José de Assis Valente (Santo Amaro, Bahia - 19/3/1911 - Rio de Janeiro, 10/3/1958) em 1927 veio para o Rio, trabalhando como ilustrador e protético e seu primeiro sucesso foi "Tem francesa no morro", que satirizando a moda "elegante" de falar francês, foi lançado por Araci Cortes. Mas seria Carmen Miranda (1909-1955), quem se tornaria a grande intérprete de suas músicas - "Minha embaixada chegou" (1934), "Camisa listrada" (1937), "E o mundo não se acabou" (1938), "Uva de caminhão" (1939), "Recenseamento" (1940) (no ano anterior, Carmen recusou "Brasil Pandeiro", gravado com sucesso pelos Anjos do Inferno e incluído no filme "Céu Azul", de J. Rui). Embora casado com Nadile (com quem teve uma filha), Assis era apaixonado por Carmen e teria sido esta a razão pela qual a 13 de maio de 1941, tentou o suicídio, atirando-se do alto do Corcovado, mas ficou preso a uma árvore de onde foi retirado pelo Corpo de Bombeiros. Recuperando-se, lançou em 1942 "Fez Bobagem", sucesso na voz de Araci de Almeida. Reduzindo sua atividade de compositor, reduziu-se em sua atividade de protético e nos anos 50 viu-se deprimido por sua situação financeira, cortando os pulsos depois que a cantora e atriz Elvira Pagã lhe cobrou uma dívida. A 10 de março de 1958, endividado e esquecido, foi para a praia do Russel e bebeu uma garrafa de guaraná com formicida.
A partir dos anos 70, suas músicas foram revalorizadas - inclusive por novas cantoras, como Olivia Byghton, que nos show apresentado no Paiol, há duas semanas, deu uma excelente releitura a "Uva de Caminhão".
Assis Valente, que se suicidou há 31 anos, é lembrado em disco, livro e pela Funarte.
Crítica
Memória de Assis Valente – vez por outra – é reaquecida. Assim foi quando o mundo ficou de acabar no segundo semestre de 1999 e todas as rádios e tevês sapecaram pelos ares o clássico de Valente “E o mundo não se acabou” (Anunciaram e garantiram/ que o mundo ia-se acabar/ E a minha gente lá de casa/ começou a rezar...). José de Assis Valente foi o compositor baiano que escreveu toda sua obra no Rio. Sempre insisti na tecla que Assis foi o primeiro baiano que se transformou em carioca de alma. Ou seja, um cronista – admirável, por sinal – das ruas, da alma e do cotidiano da cidade. Diferentemente de seu conterrâneo Caymmi, que sempre permaneceu baianíssimo em alma e obra e a quem Assis, aliás, estendeu a mão generosa quando ele aqui aportou em 1938.Ainda outro dia conversei longamente com o acadêmico Eduardo Portella, também baiano, que sabe tudo sobre o vate baiano-carioca. Portella, com a graça e cultura habituais, traçou-me um surpreendente painel sociológico sobre o perfil da obra de Assis Valente, em que chamava a atenção para a disparidade entre a alegria extravasada em suas músicas-crônicas, de um lado, e a carga trágica de sua vida pessoal, de outro.Com efeito, contam-se nos dedos as tristezas expressas em música pelo poeta. Uma delas, contudo, é até hoje lembrada, o “Boas-festas”, a mais bela canção de Natal jamais escrita no Brasil. E a mais dilaceradamente triste: “Anoiteceu, o sino gemeu/ Sozinho estou, tristonho a rezar”. Terá sido provavelmente esse sentimento de solidão que levou Assis Valente a tentar três vezes o suicídio? Numa dessas vezes atirou-se do alto do Corcovado. A notícia comoveu o país e era acompanhada de desdobramentos que davam conta de uma paixão secreta por sua intérprete favorita, Carmen Miranda, que lhe gravou jóias como “Camisa listrada”, “Uva de caminhão”, “Good-bye boy”, além de “E o mundo não se acabou”.Na década de 50, apesar da profissão de protético, que nunca deixou de exercer, Assis Valente ficou empobrecido e suas músicas já não mais eram tocadas.No dia 10 de março de 1958 comprou uma garrafa de veneno e dirigiu-se à Praça Paris. Antes ligou para Paschoal Carlos Magno e falou de sua intenção de matar-se. Paschoal me disse – muito tempo depois – que levou a ameaça do compositor na brincadeira e ainda por cima lhe despejou uns impropérios.No dia seguinte, todos os jornais da cidade registravam a terceira, bem-sucedida, tentativa de suicídio do cronista e poeta popular.E a MPB debulhou-se em lágrimas.
Ricardo Cravo Albin
Polêmica
José de Assis Valente nasceu na Bahia e teve uma infância conturbada, tendo sido separado dos pais muito cedo. Trabalhou como farmacêutico, fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios e profissionalizou-se como especialista em prótese dentária. Foi para o Rio de Janeiro em 1927, e empregou-se como protético. No início dos anos 30 começou a compor sambas. O primeiro, "Tem Francesa no Morro", tornou-se sucesso na voz de Araci Cortes em 1932. Mais tarde conheceu Carmen Miranda e passou a compor sambas especialmente para ela, casos de "Good Bye, Boy" e "Etc". Carmen foi a maior intérprete e divulgadora dos sambas de Assis Valente. "Minha Embaixada Chegou", "Uva de Caminhão", "Camisa Listrada", "E o Mundo Não Se Acabou" e "Recenseamento" foram algumas composições de Assis eternizadas pela Pequena Notável. A música mais famosa do compositor, entetanto, foi rejeitada por ela. "Brasil Pandeiro" acabou gravada pelos Anjos do Inferno em 1940, com grande êxito e regravada pelo grupo Novos Baianos mais de 30 anos depois, de novo com sucesso. Outros grupo vocais também popularizaram sambas do compositor, como o Bando da Lua, que gravou "Maria Boa" em 1936 ou o Quatro Ases e Um Coringa, que gravou "Boneca de Pano" em 1950. Outro grande sucesso foi a marcha natalina "Boas Festas", lançada por Carlos Galhardo em 1933 e regravada em 1941 e 1956. A vida pessoal de Assis Valente foi tumultuada. Em 1941 tentou o suicídio pela primeira vez, atirando-se do alto do Corcovado. Acabou resgatado pelos bombeiros, e depois de recuperado compôs "Fez Bobagem", canção marcante interpretada com grande sucesso por Aracy de Almeida. Mas sua carreira bem-sucedida como compositor não foi suficiente para mantê-lo vivo, e, depois de tentar cortar os pulsos, conseguiu matar-se ingerindo guaraná com formicida, em 1958. Muitos artistas regravaram a obra de Assis Valente, como Nara Leão, Chico Buarque e Adriana Calcanhotto. Na década de 90 o musical "O Samba Valente de Assis", sobre a trajetória do compositor, foi encenado no Rio de Janeiro. A música "Brasil Pandeiro" voltou a ser extremamente popular em 1994, graças a uma campanha publicitária relacionada à Copa do Mundo.
Dados Artísticos
Gravado em 1932, seu primeiro samba "Tem francesa no morro" tornou-se sucesso na voz de Aracy Cortes.
Por essa época, quando assistiu em um teatro da cidade Carmen Miranda cantar "Sorriso Falso", de Cícero Almeida, ficou fascinado. "Fiquei apaixonado por ela, não só como cantora, mas como mulher principalmente", confessou um dia. E fez tudo, então, para conhecê-la. Tornaram-se amigos, e Carmen Miranda, sempre que podia, incluía em seu repertório um samba dele. Indo um dia a Vila Isabel, a uma festa em que se declamava muito Olegário Mariano, Menotti del Picchia, etc., e senhoras e almofadinhas baratos da época trocavam muitos bye-byes, sentiu-se inspirado e fez o famoso "Good-bye, Boy", onde criticava o excesso de americanismos na língua brasileira, especialmente para Carmen Miranda, que acabou por se tornar posteriormente a maior intérprete e divulgadora de seus sambas. Esse samba foi gravado em 1932 em disco que tinha ainda o samba "Etc...". Teve ainda no mesmo ano gravadas por Moreira da Silva a marcha "Pra lá de boa" e o samba "Oi Maria". Nesse ano, quando estava solitário no quarto onde morava na Praia de Icaraí em Niterói, em pleno Natal, compôs a marcha "Boas festas" que se tornaria a canção natalina mais conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que conseguiu sobreviver. Seu sucesso foi de extrema importância para ele e também para Carlos Galhardo, ambos em início de carreira à época do lançamento em dezembro do ano seguinte, em disco que trazia também o samba "Pão de açúcar", com Artur Costa. Ainda em 1933, na Victor, Carmen Miranda gravou as marchas "Tão grande, tão bobo" e "Lulu" além do samba "Sapateia no chão" e Moreira da Silva os sambas "Abre a boca e fecha os olhos" e "Levante o dedo" e as marchas "Olha à direita" e "Cadê você meu bem". Também nesse ano, Aurora Miranda gravou na Odeon o samba "Sou da comissão de frente" e a marcha "Quando eu queria você", com Milton Amaral. Para as festas juninas deste mesmo ano, compôs "Cai, cai balão" marcha gravada em dupla por Francisco Alves e Aurora Miranda. Ainda em 1933, teve as marchas "Não sei pedir seu coração" e "Beijinhos" gravadas pela cantora Elza Cabral.
No ano seguinte, Carlos Galhardo gravou na Victor a marcha "Marcolina" e o samba "Sinos da Penha". Nesse ano, Carmen Miranda gravou com grande sucesso o samba "Minha embaixada chegou" em disco que trazia também a marcha "Té já".
Em 1935, mais quatro composições lançadas por Carmen Miranda, a marcha "Recadinho de Papai Noel" e os sambas "Por causa de você, Ioiô", "E bateu-se a chapa" e "Isso não se atura". Nesse ano, Almirante gravou a marcha "Deixe de ser palhaço" e o samba "Pensei que pudesse te amar", Mário Reis, o samba "Este samba foi feito pra você", com Humberto Porto e o Bando da Lua, o samba "Mangueira", com Zequinha Reis. Nesse ano, Francisco Alves gravou na Victor as marchas "Olhando o céu todo estrelado" e "Mais um balão". Teve mais quatro composições lançadas pelas irmãs Miranda em 1936, Aurora lançou a marcha "Vem comigo", com Jocelino Reis e o samba "Ao romper da aurora", com Leandro Medeiros e Carmen, a marcha "Ô..." e o samba "Fala meu pandeiro". Ainda nesse ano, a cantora Sônia Carvalho gravou os sambas "Sem você não há prazer", "Você quer se ver livre desse mundo", com Roberto Azevedo e "Eu vivia no morro", o Bando da Lua, as marchas "Cirandinha" e "Só conheço uma" e os sambas "Que é que Maria tem" e "Maria boa", este um grande sucesso carnavalesco e Orlando Silva os sambas "Não é proceder" e "Já é de madrugada".
Em 1937, teve lançadas pelas Irmãs Pagãs na Victor, os sambas "O samba começou" e "Tristeza", com Zequinha Reis e por Orlando Silva, também na Victor os sambas "Alegria", com Durval Maia, outro grande sucesso e "Minha intenção", com Nelson Peterson. Também em 1937, Carmen Miranda gravou na Odeon o samba-choro "Camisa listrada" feito exatamente para seu estilo brejeiro e malicioso, que se tornou um dos sambas preferidos dos foliões naquele ano. "Camisa listrada" chegou mesmo a ganhar o primeiro lugar em concurso promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro na noite de sexta-feira, véspera de Carnaval, no auditório da Feira de Amostras. Porém, no domingo saiu em jornal a notícia da anulação deste resultado "em virtude do não-comparecimento do presidente da comissão nomeada no edital".
Em 1938, Carmen Miranda lançou o samba-choro "E o mundo não se acabou", uma perfeita crônica sobre o fim do mundo, devido à possível colisão do cometa Halley com a Terra. Em 1939, teve gravados por Nuno Roland o batuque "Cai sereno" e o samba-choro "Coração que não entende" e por Almirante o samba "É feio, mas é bom" e a marcha "Pequena endiabrada", com Leandro Medeiros. Ainda nesse ano, Cinara Rios gravou o samba "Jarro d'água", que satirizava a falta d'água no Rio de Janeiro, e os Trigêmeos Vocalistas o sambas "Sacrifício demais", com Leandro Medeiros e "Esquece tudo", com Milton Valente. Nesse ano, Carmen Miranda gravou os sambas "Uva de caminhão", cuja letra mencionava a super safra de uva vinda do Sul, quando esta passou a ser vendida em caminhões pelas ruas da cidade e"Deixa comigo".
Em 1940, compôs para Carmen Miranda o samba "Brasil pandeiro", na ocasião em que a cantora voltava ao Rio de Janeiro após sua primeira viagem aos Estados Unidos. Carmen Miranda não gostou da composição, fato que o deixou desolado. O samba "Brasil pandeiro" acabou sendo lançado pelos Anjos do Inferno no ano seguinte em gravação Columbia e foi incluída no filme "Céu azul", de J. Rui. Ainda nesse ano, teve sua última composição gravada por Carmen Miranda, o samba "Recenseamento" feito para comentar o censo geral do Brasil determinado pelo então presidente Getúlio Vargas. No período de 1933 a 1940, teve um total de 25 sambas e marchas gravados por Carmen Miranda. Em 1941, Nuno Roland regravou o samba "Maria boa". Em 1942, recuperado da tentativa de suicídio, lançou o samba "Fez bobagem", grande sucesso na voz de Aracy de Almeida em disco de 78 rpm que tinha ainda no outro lado o samba "Amanhã eu dou". Em 1943, teve gravado por Carmélia Alves na Victor a batucada "Quem dorme no ponto é chofer", que marcou a estréia da futura "Rainha do baião" em disco.
Seu último grande sucesso foi o amargo samba-canção "Boneca de pano" gravado em 1950 pelo conjunto Quatro Ases e um Coringa". Em 1951, teve o baião "Armei a rede", com Arsênio otoni gravado por Renato Braga na Sinter. Em 1953, Ivan de Alencar gravou o samba "Desprezado sonhador", com Júlio Zamorano e Osvaldo Gouveia e Dora Lopes e o Trio Nagô o samba "Projeto 1000", com Salvador Miceli, ambos na Sinter. Em 1954, Nilton Paz gravou na Columbia a batucada "A Maria é a maior", com Alfredo Goinho e Júlio Zamorano. No ano seguinte, teve a marcha "Boas festas" regravada na Copacabana por Altamiro Carrilho e sua bandinha. Em 1956, Luiz Cláudio gravou na Columbia a marcha "Sai de baixo", parceria com Álvaro da Silva. Em 1957, Marlene gravou os sambas-choro "Jarro d'água" e "E o mundo não se acabou". Aurora Miranda a marcha "Cai, cai balão". Em maiode 1958, dois meses após seu suicídio, teve o samba "Lamento" gravado por Jairo Aguiar na Copacabana. Marlene seria a segunda cantora a gravar-lhe todo um long-playing, 10 polegadas pela Sinter com oito dos seus maiores sucessos, incluindo os sambas-choro no LP "Marlene interpreta sucessos de Assis Valente". Neste ainda registrou a marcha "Cai, cai balão".
Após sua morte, suas músicas foram redescobertas. Em 1969, Nara Leão regravou "Fez bobagem" e Maria Bethânia o samba "Camisa listrada". Em 1972, o primeiro LP dos Novos Baianos trazia como faixa de abertura "Brasil Pandeiro", que alcançou grande sucesso. Em 1973, Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão cantaram "Minha embaixada chegou" no filme "Quando o carnaval chegar", de Carlos Diégues e Maria Alcina regravou "Maria Boa". Em 1977, a tevê Globo dedicou-lhe todo um programa na série de grandes compositores intitulada "Brasil especial", escrita por Ricardo Cravo Albin e dirigida por Augusto Cesar Vannucci.
Na década de 1980, "Brasil pandeiro" deu título a um programa da TV Globo apresentado pela atriz Beth Faria. Ainda em 1980, Carmen Costa regravou "Boneca de pano". Nos anos 1990, a cantora e compositora Adriana Calcanhoto regravou "E o mundo não se acabou", sem dúvida um de seus sambas mais famosos. Ainda na década de 1990 o musical "O Samba Valente de Assis", sobre a trajetória do compositor, foi encenado no Rio de Janeiro. A música "Brasil pandeiro" voltou a ser extremamente popular em 1994, graças a uma campanha publicitária relacionada à Copa do Mundo. Admirador de sua obra, o escritor e acadêmico Eduardo Portella o considera o maior dentre todos cronistas da MPB e uma das figuras mais interessantes dentre as nascidas na Bahia. Em 2007, estreou no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil o espetáculo musical "Valente", com direção de Fábio Pilar e com argumento de Colmar Diniz, que segundo definição do diretor, fez uma "fantasia, um delírio pré-suicídio, um vôo da imaginação" que começa retratando o compositor momentos antes de tomar o guaraná com formicida e imaginando os diálogos que não teve com a cantora Carmen Miranda e com o malandro da Lapa Madame Satã. Ao longo do espetáculo são apresentados clássicos do compositor, quase todos interpretados por Marciah Luna Cabral, como "Brasil pandeiro", "Uva de caminhão", "Recenseamento", "E o mundo não se acabou", "Boneca de pano", "Boas Festas" e "Fez bobagem".
Controvérsias
Compositor.
Nasceu, segundo seu relato, em plena areia quente, no Caminho de Bom Jardim a Patioba, na Bahia, durante uma viagem de sua mãe. Teve uma infância conturbada, tendo sido roubado dos pais - José de Assis Valente e Maria Esteves Valente - e entregue depois a uma familia para ser criado. Trabalhava até ficar exausto durante a semana e, aos sábados, ia à tarde fazer feira com sua patroa. Vagou com um circo pelo interior, no qual, entre outras coisas, cantava: "Vejam só \ Vejam só \ A roupa que há cem anos, já usava minha avó \ Veio a vez \ veio a vez \ De cada roupa dessas se fazer duas e três". Em Salvador, trabalhou como farmacêutico, fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios e profissionalizou-se como especialista em prótese dentária. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1927 e empregou-se como protético. Após muita luta, conseguiu publicar alguns desenhos no Shimmy, Fon-Fon, etc.
No início dos anos 1930, começou a compor sambas. Em 1932, conheceu Heitor dos Prazeres, que muito o incentivou. Em princípios de 1941, casou-se com Nadili, com quem teve sua única filha, Nara Nadili nascida em 1942. Pouco depois o casal se separou. A 13 de maio de 1941, no apogeu de sua carreira de compositor, o Rio de Janeiro foi sacudido com a notícia de que ele se tinha atirado do Corcovado e, milagrosamente preso a um galho de árvore, fora libertado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Mas, embora salvo, moralmente prosseguiu em sua queda do abismo. Nunca mais foi o mesmo. Seu nome foi, aos poucos, sendo esquecido e, a partir de então, só esporadicamente voltava ao cartaz. Anos depois da primeira tentativa, quando Elvira Pagã, com escândalo, cobrou-lhe uma dívida de Cr$ 4.000,00 (quatro mil cruzeiros), tentou novamente o suicídio, dessa vez com lâmina de barbear. Passou então a viver de seu laboratório de prótese dentária e esporadicamente de sua música. Mas, para pagar o laboratório, era geralmente obrigado a contrair novas dívidas. Ao contrário do que muitos pensavam, continuava a compor. Freqüentemente mostrava aos íntimos uma composição nova, de rara beleza. Compunha quase uma música por dia. Não conseguia, entretanto, gravá-las. No máximo, quando as dívidas apertavam, vendia um samba que depois, assinado por outros, fazia sucesso. A 10 de março de 1958, desesperado com sua situação financeira, resolveu suicidar-se. Deixou a casa em que morava, na Rua Santo Amaro, 112, seguiu para o seu consultório na Cinelândia, onde permaneceu até cerca das l3h30 min. Às 15 h foi à Sbacem, sociedade arrecadadora de direitos autorais à qual estava filiado, para se informar de seus rendimentos. Estava tão nervoso que o tesoureiro da Sbacem, Joubert de Carvalho, deu-lhe um sedativo. Ás 16h30 min telefonou para seu laboratório dando instruções a seus empregados do que deveria ser feito após sua morte. Às 17h30 min telefonava para seu editor, Vicente Vitale, e para o embaixador Pascoal Carlos Magno comunicando-lhes que iria se matar. Vitale ainda tentou ligar para a Polícia: era tarde. Exatamente às 17h55 min, portanto, oito dias antes de seu 47º aniversário, em um banco da Praia do Russel, junto de um play-ground onde brincavam crianças, tomou formicida com guaraná. Vestia calça azul-marinho e blusão amarelo. Em seus bolsos foram encontrados um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, uma carta para a polícia e duas notas velhas de cinco cruzeiros. Na carta, entre outras coisas, esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado, e fazia um apelo ao público para que comprasse seu novo disco "Lamento". Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências. E acrescentava: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo".
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