Meez 3D avatar avatars games







"Um dia, Assis não se sabe como, o rapaz começou a bater pandeiro. Tanto que surrou, que sentiu sua alma vestida de malandro, com sua calça listrada, camisa de meia manga "palheta", e com muita vontade de brigar, tornou-se um dos nossos grandes compositores e sambistas daquela época ".
















segunda-feira, 31 de maio de 2010

O adeus a Carmen Miranda, a "Pequena Notável" para os brasileiros e a "Brazilian Bombshell" para os americanos como era chamada

Mas no dia 5 de agosto de 1955, vinha a notícia dos rádios, que comunicavam o falecimento da cantora Carmen Miranda, a "Pequena Notável". Depois de passar mal um pouco antes em um programa de televisão ao vivo. A Pequena Notável, teve um colapso cardíaco, um enfarte fulminante, na sua casa em Beverly Hills, Estados Unidos. Seu corpo, foi embalsamado e veio de avião direto para o Brasil, onde uma multidão de um milhão de pessoas a esperavam no aeroporto do "Galeão", atual "Tom Jobim', seguindo o cortejo de seu enterro, cantando emocionado a música "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim", sua primeira canção de grande sucesso, composta por Joubert de Carvalho. A cantora Carmen Miranda, até hoje continua sendo sempre lembrada pelo povo e pelos seus fãs, através de shows e discos em sua homenagem como nos filmes, documentários sobre a sua vida (como o premiado "Banana Is My Bussines"), aonde era conhecida pelos americanos como "Brazilian Bombshell".     

O corpo de Carmen Miranda chegou ao Rio no dia 12 de agosto de 1955. Ao microfone da Radio Mayrink Veiga, a sua estação aqui no Brasil, César Ladeira, naquele dia, fez uma saudação de despedida à Carmen. Apesar da qualidade da gravação não ser boa, vale a pena ouví-la:

Carlos Henrique (locutor): Vai falar, César Ladeira.

César Ladeira: Carmen, minha boa amiga, quiseram seus antigos companheiros da Mayrink Veiga que fosse eu o intérprete de sua tristeza nesse nosso último adeus. Eu, que tantas e tantas vezes apresentei você ao microfone da sua estação, com sua voz que fazia vibrar o espaço de alegria e de ritmo, eu sou agora o escolhido para a despedida extrema. Por este mesmo microfone, quando seu silêncio definitivo enche nossos corações de mágoa e tristeza. Esta mesma rua, que hoje se encontra repleta de gente amiga, deplorando seu desaparecimento, esta mesma rua foi testemunha de seus sucessos mundiais lá por volta de 1934. Você, no marasmo artístico daquela época, era um acontecimento nacional. Seu nome projetava-se para o alto, num destino vaidoso de rojão, sempre subindo, subindo. Duas vezes por semana, na obrigação pontual de suas audições, essa gente se acotovelava numa pequena sala apelidada de auditório, acompanhando feliz pelo vidro do estúdio os números musicais que você enviava a todo o Brasil, criando sempre um sucesso atrás do outro. "Camisa Listrada", "Uva de Caminhão", "Adeus Batucada", "No Tabuleiro da Baiana". Essa mesma gente ficou feliz quando soube em 1939 que outros olhos iriam apreciar sua arte para sempre, lá fora, lá longe. Sempre feliz, minha amiga, essa mesma gente que a levou até o navio para um bota-fora consagrador, essa mesma gente foi buscá-la no ano seguinte após a confirmação de seu êxito internacional. No âmbito da Rua Mayrink Veiga, que aqui andou e que a seguiu pela Avenida Rio Branco super lotada. Os alto-falantes berrando e você, a Pequena Notável, foi saudada como uma legítima jóia verde-amarela. A nossa cantora doméstica ia além fronteiras que ampliavam seu cartaz. O cinema levara nossa Carmen Miranda à todas as partes do mundo. E em todo coração havia um lugarzinho reservado para a gente gostar de você. E você, Carmen, você acabou voltando para longe e lá ficou catorze ou quinze anos. Seu pensamento constante era, no entanto, a sua terra. Neste Brasil onde você não nasceu, mas que poderia ter nascido pelo que por ele fez na divulgação de sua música. Um milagre, apesar do distante, sua estrela ainda brilhava com intensidade. Seu nome continuou sendo uma claridade. Mas enquanto seus antigos companheiros da Mayrink Veiga, essa mesma gente que sempre acompanhou seus passos com interesse, enquanto nós gozávamos com seu sucesso permanente, esse mesmo sucesso vinha matando você, Carmen. A glória vinha pouco a pouco assassinando, desgastando suas energias, num vai-e-vem obrigatório de contratos a cumprir, na exigência fria e calculista dos números, em quinze anos passados tivemos a prova do preço de sua popularidade, Carmen. A Pequena Notável, aqui chegava quinze anos depois, curvalida, cansada, com os nervos em pedaços. Espalhou-se por aí uma onda de boatos imaginando doenças demais. Apenas uma era a causa: descontrole imenso de nervos, cansaço, excesso de trabalho. Mas então o que valera tudo aquilo? Toda aquela brilhante carreira, toda aquela trajetória maravilhosa? Afinal, este sacrifício valeu a pena? Valeu, e não valeu. Valeu pela repercussão internacional das melodias do Brasil, das coisas do Brasil. Do Brasil ele mesmo, da embaixada risonha, cujo côro musical presidido pela Pequena Notável, conseguiu divulgar no exterior. Valeu a pena sim, para nós. Mas não valeu a pena para você, Carmen, que pagou tão alto salário pelo custo de sua fama. Ao mesmo tempo, dançava e "iaiava". Divertia populações e enriquecia. Mas de que valeu tanto sacrifício, que comprou a glória a tão elevado preço - a própria vida? Carmen, nós, seus antigos companheiros, dessa rádio de tão brilhantes dias, nós, que desta Rua Mayrink Veiga, nós, o Brasil, que a acompanhávamos sempre radiantes por suas glórias, também lhe devemos alguma coisa. E essa dívida nós saldaremos no culto perene da sua saudade. Nós lhe devemos todo esse sacrifício feito por nós. E porque nós sabemos que foi para nós, com pensamento no Brasil, que você embarcou uma noite, em 1939, para Nova York, para elevar o nome musical do Brasil. Tão alto, tão alto que numa certa madrugada de agosto de 1955, você percebeu que estava cantando para alguns amigos que você nunca esqueceu: Custódio Mesquita, João de Barro, Francisco Alves, Noel Rosa, César Silva, Luiz Barbosa. Carmen, você que sempre me agradecia o apelido com que num dia feliz eu a chamei, a Pequena Notável, desculpe-me hoje a falta de brilho destas palavras pequenas, mas eu desejei ser apenas sincero. Seu amigo de sempre, seu velho companheiro de luta, o representante de todos que aqui trabalharam e trabalham agora. E é sinceramente que eu lhe trago nosso muito obrigado por tudo que você fez. E é sinceramente que eu lhe digo que seu sacrifício será para sempre louvado em nossa terra. E é sinceramente, Carmen amiga, que lhe desejamos que você repouse em paz. Nessa paz que você nunca teve em sua atribulada carreira. Adeus, Carmen. Adeus. Repouse em paz.

Nenhum comentário: